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Oceano afogado em lixo: como o plástico ameaça os mares e o que podemos fazer*

19 DE MARçO, 2025
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Os oceanos, essenciais para a vida no planeta, estão cada vez mais sufocados por um inimigo silencioso e persistente: o plástico. Desde os anos 1950, quando a produção industrial de plásticos disparou, o material sintético tornou-se indispensável para a economia global, mas também se converteu em uma grave ameaça ambiental. O resultado é alarmante: mais de 170 trilhões de partículas plásticas flutuam nos oceanos, o equivalente a entre 1,1 e 4,9 milhões de toneladas de lixo.

A escalada da poluição plástica

Embora as primeiras evidências da poluição plástica nos mares tenham surgido na década de 1960, apenas nas últimas duas décadas a ciência conseguiu dimensionar a extensão real do problema. Os resíduos plásticos atingem todas as partes do oceano, desde as praias até as profundezas abissais, com impactos devastadores para a vida marinha e para a economia de comunidades costeiras.

Estudos recentes indicam que até 25 milhões de toneladas de micro e nanoplásticos são depositadas no oceano anualmente apenas pelo transporte atmosférico. Ou seja, não é apenas o descarte direto que polui os mares – o vento e a chuva carregam partículas minúsculas de plástico, agravando o problema. Além disso, redes de pesca descartadas, embalagens plásticas e garrafas PET representam uma grande parte do lixo encontrado nos fundos oceânicos, especialmente em áreas de pesca intensiva.

O que está sendo feito?

O combate à poluição plástica envolve diversas frentes. Algumas iniciativas internacionais, como o Projeto GloLitter Partnerships, desenvolvido pela Organização Marítima Internacional (IMO) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), buscam reduzir os resíduos plásticos gerados pelo setor de transporte marítimo e pesca. Outra frente são os acordos para um tratado global contra a poluição plástica, que vem sendo negociado no âmbito da ONU.

Além disso, programas de limpeza de oceanos estão sendo implementados, embora especialistas alertem que essas ações devem ser planejadas cuidadosamente para evitar impactos negativos no ecossistema. Novas metodologias de avaliação de risco de micro e macroplásticos também estão ajudando a direcionar estratégias mais eficazes de combate à poluição.

A produção de plástico não para de crescer

Apesar dos esforços para conter o problema, a produção mundial de plásticos continua aumentando. Atualmente, são fabricadas cerca de 450 milhões de toneladas de plástico por ano, e as projeções indicam que esse volume poderá dobrar até 2045 se nada for feito. O desafio é ainda maior em países em desenvolvimento e pequenas ilhas, onde a infraestrutura para a gestão de resíduos é insuficiente.

Além do impacto ambiental, o plástico também afeta comunidades vulneráveis. A exportação de lixo plástico de países desenvolvidos para nações menos estruturadas agrava a crise ambiental e sanitária, expondo populações inteiras a riscos de contaminação.

O que podemos fazer?

O problema da poluição plástica exige soluções urgentes e eficazes. Algumas ações podem fazer a diferença:

  • Redução no consumo de plásticos descartáveis: pequenas mudanças, como substituir garrafas plásticas por reutilizáveis e evitar sacolas plásticas, já ajudam a diminuir a demanda por novos plásticos.
  • Políticas públicas mais rigorosas: governos precisam adotar leis que incentivem o uso de materiais biodegradáveis e promovam a economia circular.
  • Reciclagem eficiente: investir em sistemas de reciclagem bem estruturados é fundamental para evitar que plásticos descartados terminem nos oceanos.
  • Educação ambiental: conscientizar a população sobre os impactos do plástico nos oceanos e incentivar práticas sustentáveis é essencial para mudar essa realidade.

O futuro dos oceanos depende da ação coletiva de governos, empresas e indivíduos. Se quisermos um planeta sustentável, precisamos, urgentemente, repensar nossa relação com o plástico. Caso contrário, estaremos afundando não apenas nossos oceanos, mas também o nosso próprio futuro.

Post escrito com base nas informações do “State of the Ocean Report 2024″, publicado pela Unesco