O oceano está subindo: dados revelam elevação recorde do nível do mar nos últimos 30 anos
Foto mostra erosão costeira intensa — palmeiras tombadas e raízes expostas — um retrato real das consequências do aumento do nível do mar. Crédito: Foto: Jane Doe / Stocksy (2025)
10 DE JUNHO, 2025
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O nível médio global do mar atingiu um novo recorde em 2023, como revelam dados compilados por organizações internacionais como a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO e o serviço Copernicus de Monitoramento Marinho. Segundo o relatório State of the Global Climate 2023, o ritmo da elevação do nível do mar mais que dobrou nos últimos 30 anos: passou de 2,13 mm por ano (entre 1993 e 2002) para 4,77 mm por ano entre 2014 e 2023.
Desde 1901, o nível médio global do mar subiu aproximadamente 20 centímetros, com aceleração significativa nas últimas décadas. Entre 1993 e 2018, o aumento registrado foi de cerca de 8,1 centímetros, e em 2023 atingiu o recorde de 9,4 centímetros acima da média de 1993. Esses dados, confirmados por fontes como o IPCC, NOAA e a Organização Meteorológica Mundial, refletem o impacto crescente da expansão térmica dos oceanos e do derretimento das geleiras impulsionados pelas mudanças climáticas.
Até 2050, o avanço do mar e as tempestades extremas colocarão em risco casas e comunidades costeiras. Esta imagem mostra como as inundações se tornarão mais frequentes e severas, mesmo em dias sem chuva. Fonte: NOAA
Causas da elevação do nível do mar
A elevação do nível do mar é considerada uma das conseqüências mais preocupantes das mudanças climáticas em curso. Trata-se de um processo gradual, mas de longo alcance, com efeitos diretos sobre populações humanas, sistemas naturais e atividades econômicas nas zonas costeira
Duas causas principais respondem pela elevação do nível do mar: a expansão térmica da água e a perda de gelo continental.
A expansão térmica ocorre quando os oceanos absorvem calor da atmosfera — e ele já absorveu cerca de 90% do excesso de energia causado pelo aquecimento global. Esse aquecimento provoca a dilatação da água, elevando seu volume total. Simultaneamente, o derretimento de geleiras, calotas polares e camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida adicionam grandes quantidades de água doce aos oceanos.
O conteúdo de calor dos oceanos, em especial nas camadas superiores (até 2.000 metros de profundidade), também atingiu níveis recordes em 2023. Isso tem provocado a intensificação de eventos extremos, como ciclones, ondas de calor marinhas e alterações nas correntes oceânicas.
Impactos nas zonas costeiras
A elevação do nível do mar representa uma ameaça crescente para as populações que vivem em áreas costeiras de baixa altitude. Segundo a IOC/UNESCO, aproximadamente 900 milhões de pessoas em todo o mundo residem em zonas particularmente vulneráveis a inundações, erosão e salinização de aquíferos.
Erosão costeira na ilha de Nggatokae (Ilhas Salomão), por Alex DeCiccio.
No Brasil, embora o fenômeno ainda não tenha provocado migrações em larga escala, diversas regiões costeiras já apresentam impactos visíveis, que podem estar associados à subida do nível do mar, como recuo erosivo da linha de costa, inundações, e avanço do mar sobre estruturas urbanas. A tendência é que esses efeitos se intensifiquem ao longo do século.
Além dos impactos sociais e econômicos, a elevação do nível do mar pode comprometer ecossistemas costeiros, como manguezais, estuários e recifes de coral, que desempenham papel essencial na proteção contra tempestades e na manutenção da biodiversidade marinha.
Projeções futuras para aumento do nível do mar
Projeções baseadas em cenários do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que o nível do mar poderá subir entre 30 e 100 centímetros até o final deste século, dependendo da trajetória das emissões de gases de efeito estufa.
Mesmo que as emissões sejam significativamente reduzidas nos próximos anos, o nível do mar continuará a subir durante séculos. Isso ocorre porque os processos de aquecimento dos oceanos e de derretimento das geleiras já em curso apresentam inércia significativa.
Monitoramento e resposta
O monitoramento contínuo do nível do mar é realizado por meio de uma rede global de satélites, marégrafos e sensores oceânicos coordenada por instituições como a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA), o programa Copernicus da União Europeia, a IOC/UNESCO, e no Brasil pelo IBGE, que possui a Rede Maregráfica Permanente para Geodésia.
Esses dados alimentam sistemas de alerta precoce, subsidiando decisões de planejamento urbano, construção de infraestrutura resiliente e políticas públicas de adaptação. No âmbito internacional, a ONU vem promovendo iniciativas como o Decênio das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021–2030), com o objetivo de mobilizar conhecimento científico em apoio à gestão sustentável dos oceanos.
A elevação do nível do mar não é uma possibilidade futura: é uma realidade já mensurável, registrada por dados confiáveis e amplamente reconhecida pela comunidade científica. Trata-se de um fenômeno que exige vigilância constante, cooperação internacional e ações concretas de mitigação e adaptação em múltiplas escalas.