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Por que o mar muda de cor? Entenda o papel invisível do fitoplâncton

fitoplâncton; cor do oceano; Captura da NASA em maio de 2021 mostra padrões ondulados em tons turquesa junto à South Island. Reflete correntes e presença de coccolitóforos em meio à mistura de águas costeiras
11 DE JUNHO, 2025
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Quando o oceano muda de azul para verde, turquesa ou até vermelho, o que você está vendo pode ser obra de organismos microscópicos que vivem na água: o fitoplâncton, que interfere diretamente na cor do mar. Esses microrganismos fotossintetizantes não apenas mudam a coloração do oceano, como também produzem oxigênio e sustentam a vida marinha.

O fitoplâncton é formado por algas unicelulares, cianobactérias e outras espécies microscópicas que habitam a camada superficial iluminada dos oceanos, rios e lagos. Apesar de minúsculos, exercem um papel central nos ecossistemas aquáticos: capturam gás carbônico, sustentam a cadeia alimentar e produzem cerca de metade do oxigênio disponível na Terra.

Quando o oceano floresce

Em determinadas condições, o fitoplâncton se multiplica rapidamente, formando grandes manchas visíveis até por satélites. Esse fenômeno é conhecido como “bloom”. A explosão populacional ocorre principalmente quando há excesso de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, combinados com luz solar abundante e temperaturas elevadas.

O bloom pode se espalhar por centenas ou milhares de quilômetros e provocar mudanças notáveis na coloração da água. É um processo natural, mas pode ser intensificado por atividades humanas, como o despejo de esgoto ou fertilizantes em rios e mares.

O que muda a cor do mar

A cor do mar está diretamente relacionada à quantidade e ao tipo de fitoplâncton presente. Organismos ricos em clorofila, como muitas microalgas, deixam a água com tons esverdeados. Já os coccolitóforos, cobertos por placas calcárias, refletem a luz solar de forma intensa e podem dar à água uma coloração azul-turquesa ou esbranquiçada.

Quando há proliferação de certos tipos de cianobactérias (bactérias fotossintetizantes também conhecidas como algas azul-esverdeadas) ou de dinoflagelados (microalgas que podem produzir toxinas), a água pode adquirir tons avermelhados, amarronzados ou até dourados. Essas variações servem como um alerta visual e ajudam cientistas a monitorar a saúde dos ecossistemas marinhos.

Quando a beleza se torna um risco

Nem todo bloom é inofensivo. Em alguns casos, o crescimento excessivo de determinadas espécies pode gerar impactos negativos à fauna, à flora e à saúde humana. Esses são os chamados blooms nocivos, ou “marés vermelhas”.

Algumas espécies liberam toxinas que afetam peixes, moluscos e até pessoas. Além disso, o acúmulo de biomassa pode reduzir drasticamente o oxigênio dissolvido na água, provocando a morte de organismos marinhos. Os efeitos incluem contaminação de alimentos, paralisação da pesca e prejuízos ao turismo.

Olho no céu para entender o mar

Agências como a NASA, a NOAA e o programa europeu Copernicus utilizam satélites para monitorar a concentração de clorofila nos oceanos, identificando a presença e a intensidade dos blooms em diversas regiões do planeta.

O sensoriamento remoto é uma ferramenta fundamental para a gestão costeira e a prevenção de riscos ambientais. Também fornece dados importantes para entender os impactos das mudanças climáticas sobre a produtividade dos oceanos.

O que favorece os blooms

A ocorrência de blooms está associada a uma combinação de fatores. Entre os principais estão a temperatura da água, a disponibilidade de nutrientes, a intensidade da luz solar e a estabilidade da coluna d’água. Movimentos verticais, como ressurgências, também desempenham um papel importante ao trazer nutrientes das profundezas.

Eventos climáticos globais, como El Niño e La Niña, influenciam esses padrões. Além disso, o despejo de poluentes e a alteração de habitats costeiros contribuem para o desequilíbrio desses processos naturais.

Reflexo do clima nos oceanos

Observar as cores do mar é uma forma de entender o estado do planeta. O fitoplâncton, invisível a olho nu, está profundamente conectado ao clima, à biodiversidade marinha e à qualidade da água.

Seu comportamento oferece pistas valiosas sobre as transformações em curso nos oceanos — e sobre a urgência de preservar os ambientes marinhos para o futuro da vida na Terra.